Apesar de estudo que questiona o exame de colonoscopia como prevenção para câncer de intestino grosso, nenhuma pessoa deve cancelar seu exame.
Dr. Felipe Coimbra, cirurgião oncológico, PhD, diretor de Tumores Gastrointestinais do A.C.Camargo Cancer Center e do Instituto Integra Saúde, em São Paulo, ressalta que o estudo publicado em The New England Journal of Medicine, em outubro de 2022, tem limitações e a conclusão da pesquisa requer interpretação mais precisa e divulgação mais clara. Não é exatamente como foi comentado.
Dentre os 28 mil voluntários convidados para fazerem o exame, apenas 42% o fizeram. Ou seja: o teste de triagem não foi adotado pela maioria da população envolvida nos experimentos. O exame apresentou-se mais eficaz quando os pesquisadores analisaram apenas os resultados das cerca de 12 mil pessoas que realmente foram submetidas ao procedimento: a redução do risco de câncer colorretal foi de 31% e o risco de morte caiu em 50%, o que é muito significativo.
Dr. Felipe Coimbra alerta que, embora as veiculações possam levantar suspeitas sobre a eficácia da colonoscopia, a recomendação continua sendo fazer este exame preventivo a partir dos 45 anos. “Isso é ainda mais verdade para pessoas que têm histórico de câncer na família, em especial câncer colorretal”, ressalta o cirurgião oncológico e professor.
Entenda o estudo
Durante dez anos de pesquisas, dois grupos foram acompanhados. Um deles foi convidado para fazer a colonoscopia de prevenção. Apesar do convite, que caracterizava aquele grupo, apenas 42% dos 28 mil voluntários realmente foram examinados. O outro grupo não foi chamado para passar pelo procedimento e, portanto, não fizeram o exame. “Isto é, 58% não atenderam ao chamado, embora estivessem no grupo que deveria ter passado pela colonoscopia. Ao comparar a mortalidade por câncer colorretal, no entanto, os cientistas não excluíram esses pacientes não examinados, mas que constavam no grupo convidado para fazer o procedimento. Esse aspecto é importante a ser considerado diante da conclusão destacada pela imprensa ao noticiar o resultado”, comenta.
Segundo o dr. Felipe Coimbra, o problema está no fato de os pesquisadores terem analisado os dados considerando os dois grupos que compunham o estudo e não exatamente se os pacientes tinham realmente feito a colonoscopia ou não.
Essas limitações relevantes do estudo levam o diretor do A.C.Camargo Cancer Center a afirmar que esses resultados não devem afastar as pessoas do propósito de fazer colonoscopia. Outros especialistas seguem esse mesmo posicionamento.
Incidência de câncer colorretal é menor no grupo que fez a colonoscopia por screening
Ainda com esses índices significativos – redução do risco de câncer colorretal de 31% e do risco de morte de 50% -, esse benefício observado é menor do que o relatado em estudos anteriores, que chegaram a apontar uma queda de mais de 60% no risco de morte pela doença.
Porém, essa redução não justifica colocar em xeque a validade da colonoscopia. Isso porque, além das limitações da pesquisa, a incidência de câncer do intestino grosso é menor dentre as pessoas que fizeram a colonoscopia por screening.
E tem mais: esse tipo de câncer representa a terceira maior incidência na população no Brasil. São cerca de 40 mil novos casos, por ano, entre homens e mulheres. A boa notícia, de acordo com dr. Felipe Coimbra, é que esse tumor é tratável e com uma grande probabilidade de cura – se for detectado precocemente -, antes de se espalhar para outros órgãos.
Como se cuidar
Especialistas recomendam olhar o próprio cocô como forma de detectar esse tipo de câncer de forma rápida, simples e gratuita. Se tiver sangue, é sinal de alerta. Vale observar também mudanças contínuas nos hábitos intestinais, diarreia e prisão de ventre alternadas, dor ou desconforto abdominal. Fraqueza e anemia também podem indicar câncer no intestino grosso.
Grande parte desses tumores se inicia a partir lesões benignas, chamadas pólipos, que podem crescer na parede interna do intestino grosso e são retirados durante a colonoscopia.
Além de estar atento ao próprio corpo, acessar informação de qualidade e se consultar com médicos envolvidos com a educação continuada são ações preventivas e de promoção da saúde.
A notícia sobre esse estudo pode ser lida na CNN Brasil.